Filme "Nefarious" (2023), Chuck Konzelman e Cary Solomon.

Resenha do filme Nefarious (2023, Chuck Konzelman e Cary Solomon)

O filme “Nefarious” (2023) nos apresenta a melhor produção cinematográfica já realizada sobre possessão demoníaca, segundo o sacerdote brasileiro mais conhecido no enfrentamento do demônio em casos de exorcismo, Padre Carlos Martins.


Esse filme independente nos dá a oportunidade de assistir a mente demoníaca agindo com desejo e inteligência diante do ceticismo de um médico psiquiatra ateu. Ao contrário do clássico “O Exorcista” (1973), a produção independente não nos atola em cenas hollywoodianas repletas de efeitos especiais que evidenciam levitação, voz grave, força extraordinária e outros sinais largamente retratados em filmes que tenham como tema central possessão e exorcismo.

Edward Wayne Brady (Sean Patrick Flanery) está a poucas horas da sua pena de morte e diz estar possuído pelo demônio de nome Nefarious. Edward recebe a visita do psiquiatra ateu James Martin (Jordan Belfi) que em poucas horas terá de avaliar a sanidade mental do paciente e através do diagnóstico determinar se o serial killer continuará vivo ou seguirá o caminho para a pena de morte por cadeira elétrica. Antes disso, em posse do corpo de Edward, o demônio diz ao médico que antes do seu tempo esgotar ele será o autor de 3 assassinatos.

Dr. James Martin (Jordan Belfi) encontra com Nefarious (Sean Patrick Flanery) pela primeira vez.
Dr. James Martin (Jordan Belfi) entra na cela reservada e de pé observa Nefarious (Sean Patrick Flanery) pela primeira vez.

A história por trás do longa “Nefarious” é baseada no livro “A Nefarious Plot” (2016), escrito por Steve Deace. A produção do longa-metragem tem na direção e no roteiro a dupla Cary Solomon e Chuck Konzelman, católicos devotos e fiéis. A distribuição ficou por responsabilidade da produtora independente A2 Filmes; foram investidos apenas US$ 5 milhões, um orçamento de baixo custo frente às centenas de milhões injetados em produções de Hollywood.

Assim como “Som da Liberdade” (2023, Alejandro Monteverde), a recepção de “Nefarious” por grande parcela da mídia especializada e pelos críticos, ambos, na sua maioria, propensos às doutrinas progressistas como a cultura woke, foram das mais absurdas. Isso porque o que esses filmes nos mostram são problemas reais dos qual o combate imediato deve ser rígido contra o tráfico e a exploração sexual de crianças e a existência silenciosa de uma batalha com um vilão real que almeja o domínio, a manipulação e a destruição das almas e do mundo: o demônio, Lúcifer, diabo, satanás, capiroto, coisa ruim, tinhoso ou qualquer outras tantas variantes lexicais.

Deixo as mazelas acima de lado para já destacar um movimento de câmera que imediatamente remete à associação da queda do anjo expulso do céu (Lúcifer), referência vista poucos minutos após o início do filme, quando a câmera foca o céu e desce indo em direção ao presídio/reformatório onde se encontra o assassino em série condenado à morte e que diz ser o próprio demônio, cujo o nome é o título deste longa.

Os diretores se utilizam de um recurso simples de movimento de câmera que ajuda o espectador a identificar quem está falando em determinado momento da cena específica. 

A câmera fica posicionada atrás do Dr. James, suas costas é utilizada como uma divisória, quando quem fala é do próprio Edward Wayne Brady, o enquadramento dele fica de um lado; no momento do coisa ruim Nefarious falar, a câmera é movimentada atrás das costas  para o lado oposto.

Nota-se já nas primeiras falas de Nefarious o quanto ele (o demônio) detém o conhecimento da vida pessoal de seu provável corpo hospedeiro: antes de Dr. James iniciar sua apresentação, Nefarious antecipa a descrição curricular do médico. A inteligência do anjo rebelado de Deus é demonstrada ao longo da discussão com o seu interlocutor incrédulo e cada vez mais cego na ira proveniente das revelações da entidade demoníaca que o deixa também confuso a cada frase de impacto.

Há um momento intrigante no meio da discussão logo após o demônio expressar o seu poder por meio de um objeto que deixa o Dr. James assustado. Em seguida, o psiquiatra convida à sala o capelão responsável pelos ofícios religiosos da cadeia, o padre Louis (Daniel Martin Berkey) – ou segundo ele, “Lou” -, para intervir com o demônio de maneira espiritual e teológica, contudo – apesar da presença do sacerdote causar um medo desesperador no demônio, como o Diabo foge da cruz – o que se vê é um padre sob um estola colorida, frouxo em sua fé e que descrente da possessão demoníaca (o que diria Padre Gabriele Amorth) faz com que o demônio perca o medo e se sinta muito melhor. Seria o “filho de Deus” potencial excomungado, afável à teologia da libertação?

Padre Louis se assusta com o movimento de Nefarious para cumprimentá-lo.
Pe. Louis (Daniel Martin Berkey) se inclina para trás assustado após Nefarious estender a mão em cumprimento, depois do sacerdote demonstrar frouxidão quanto ao seu dever sacerdotal frente ao demônio.

O roteiro adaptado do livro de Steve Deace impacta do ateu ao crente, principalmente no que diz respeito ao conhecimento de Deus pelo próprio demônio, o que faz dele ser temente, apesar de seguir insistindo incessantemente no seu objetivo dominação e destruição de toda a criação e criatura do Criador.

A satisfação que Edward Wayne Brady (Nafarious) sente frente à negação da existência de Deus que acredita o médico psiquiatra Dr. James Martin é celebrada por Nefarious, este se sente mais satisfeito quando seu interlocutor descrente diz que “o mal não está indo bem, por conta que nós nunca fomos tão ‘livres’” ou quando o demônio julga o doutor sobre suas atitudes que o fez cometer contra a vida de sua mãe, de seu bebê e do próprio Edward e ele interrompe com a fala: “É a minha vida, eu posso fazer o que quiser”. O êxtase de satisfação que Nefarious sente ao anunciar a morte por aborto do bebê é de dilacerar o coração de quem tem uma alma.

A régua de interpretação do ator Sean Patrick Flanery está elevada, pois ele se põe sob a pele de dois personagens em um só, Edward Wayne Brady (o assassino em série) e Nefarious (o demônio). As expressões faciais realizadas pelo ator quando seu personagem está em posse da entidade demoníaca ou a gagueira do assassino em série já são o suficiente para comprovar a entrega do ator ao seu papel, ou melhor, aos seus papéis.  

Por mais que esta obra cinematográfica se comunique por uma perspectiva Católica, logo um filme Católico, Nefarious é também um vilão real, como já escrito, e que todos os cristãos devem combatê-lo diariamente. O próprio diabo, irônico que é, nos acusa como sociedade de esconder a verdade de nós mesmos, suas armadilhas estão implantadas pelo mundo todo, camufladas em narrativas progressistas como, por exemplo, a “cultura woke” que com um discurso sedutor se propaga por diversos meios do entretenimento e pelas vias dos discursos políticos e sociais.

Que a luz do Espírito Santo nos ilumine diante das trevas deste mundo para que você e eu tenhamos consciência da existência de uma guerra entre o bem e o mal pelas almas, que pela transcendência divina saibamos combater o bom combate, separar o trigo do joio e seguir em busca da salvação. Quem sabe o ateu, agnóstico ou cético, ignorante que seja, não se convertam ao assistir o demônio pregar o Evangelho, mesmo odiando a Palavra de Deus. O mal existe e através da sua maior representação está aqui para nos confundir, assim como estão seus discípulos disfarçados de bom samaritano.

Inté, se Deus quiser!

NOTA: Nota do crítico - 5 estrelas (excelente!)

 

Trailer

Pôster

Pôster do filme "Nefarious" (2023)

Curiosidades sobre Nefarious

  • De acordo com “The Spirit World”, uma entrevista a um programa de uma estação de rádio católica com um padre/exorcista aprovado pelo Vaticano chamado Rev. Gary Thomas (cuja experiência como aprendiz de um exorcista veterano serviu de base para “O Ritual” (2011), no qual também foi consultor criativo), este foi o filme mais realisticamente preciso sobre possessão demoníaca que o reverendo já viu;
  • De acordo com um exorcista no set, uma de suas cenas favoritas no filme, devido ao realismo, foi quando o psiquiatra cansado diz: “Eu não sabia que estava em uma luta”, ao que o demônio responde: “É por isso que você está perdendo”;
  • Alguns dos desafios das filmagens foram quando o governo federal em Oklahoma quase encerrou o projeto devido a uma greve, embora nenhuma reclamação tenha sido expressa, a eletricidade caiu, o mixer de som morreu, nove acidentes de carro ocorreram com a equipe, apesar de terem menos de 100 motoristas, Steve Deace foi infectado com um cisto debaixo do braço, um padre/exorcista no set sofreu uma ruptura de apêndice com risco de vida e o telhado de um dos prédios de escritórios foi arrancado durante uma tempestade;
  • Toda a equipa pegou COVID e tiveram que começar o filme de novo;
  • Ocorreram vários acidentes de carro em 11 ou 12 dias. Ninguém ficou ferido, mas todos os carros foram destruídos;
  • Sean Patrick Flanery considerou esse um dos três filmes de que mais se orgulhava de ter feito;
  • Em uma cena em que um padre se aproxima de Nefarious, que parece assustado, alguns dos cabelos da cabeça de Sean Patrick Flanery se formam brevemente em forma de chifres, que depois voltam a se acalmar quando ele percebe que o padre não está levando seu papel a sério e, portanto, é inofensivo;
  • Sean Patrick Flanery explicou em uma entrevista que o roteiro foi tão bem escrito que não houve improvisação da parte dele, exceto “Talvez duas sílabas”;
  • Sean Patrick Flanery explicou que assumiu esse papel porque isso o ajudaria a permanecer fiel a si mesmo e à sua fé;
  • Este filme é uma prequela dos romances “A Nefarious Plot” (2016) e “A Nefarious Carol” (2020) de Steve Deace;
  • O autor Steve Deace afirmou que o objetivo deste filme é “assustar as pessoas”;
  • Os cineastas disseram que esse filme era uma forma diferente de ministério cristão por meio do cinema, retratando a teologia pelo ponto de vista do outro lado, especificamente do demônio que expressa seu ponto de vista da teologia para o ateu, que ele vê como um completo tolo; especificamente com a frase “Eu sei mais sobre teologia do que qualquer ser humano que já existiu”;
  • A página de dedicatória do livro “A Nefarious Plot”, de Steve Deace, no qual esse filme foi inspirado, diz: “Este livro é dedicado a todos os idiotas úteis que existem, especialmente àqueles que não faziam ideia de que estavam sendo usados todo esse tempo, pois vocês provaram ser os idiotas mais úteis de todos. -Nefarious”. Deace explicou que escreveu o livro como uma sequência de “The Screwtape Letters” (‘Carta de Um Diabo a Seu Aprendiz’), de C.S. Lewis;
  • De acordo com o co-roteirista/diretor Cary Solomon, um dos motivos que o fez decidir fazer o filme foi quando ele viu uma pesquisa em que 7/10 pessoas acreditavam ter algum tipo de distúrbio mental, sendo que 4 das 7 acreditavam que seu “distúrbio” era infligido por demônios;
  • Sean Patrick Flanery concordou em interpretar o detento Nefarious simplesmente porque adorou trabalhar com Cary Solomon e Chuck Konzelman em um filme de 15 anos atrás que nunca foi lançado. Quando Konzelman telefonou para Flanery para perguntar se ele queria participar desse filme, ele brincou dizendo que estava fazendo um “comercial de Fruitloops“, ao que Flanery respondeu imediatamente: “Coloque-me no filme”;
  • De acordo com o livro, “A Nefarious Plot”, o demônio explica que odeia absolutamente personagens fictícios que inspiram esperança, incluindo o Super-Homem, que inibe aspectos de Moisés e Cristo. Ele explica que eles tentaram corromper o personagem influenciando a revisão que teria sido “Superman Lives”, dirigido por Tim Burton e estrelado por Nicolas Cage, mas falharam quando o filme foi cancelado. Eles sofreram outra queda quando foi feito “O Homem de Aço” (2013), no qual o Super-Homem busca conselhos de um padre. Por isso, Nefasto explica que o demônio general encarregado de Hollywood foi “punido severamente”;
  • Sean Patrick Flanery já havia interpretado uma pessoa com deficiência mental possuída por uma força maligna em “The Evil Within” (2017);
  • Jordan Belfi descreveu o aspecto de possessão do filme como mais real por não ter os espetáculos de filmes semelhantes, como o vômito “em jato” do possuído, escalar paredes ou levitar, mas, em vez disso, lidar com um demônio descrevendo as dores que ele está forçando seu hospedeiro a suportar enquanto tenta corromper qualquer outra pessoa ao redor;
  • As últimas palavras de Edward, “Mene mene tekel upharsin”, são as palavras em aramaico escritas por uma mão misteriosa na parede do palácio de Belsazar e interpretadas por Daniel como a previsão da desgraça do rei e de sua dinastia (mencionadas no Livro de Daniel 5:25);
  • No prefácio de “A Nefarious Plot”, o narrador explica que não contará ao leitor como chegou ao manuscrito demoníaco que compõe o livro, mas que, se vender os direitos cinematográficos, traduzirá essa história em um filme. O autor Steve Deace disse que escreveu o prefácio como uma piada, sem saber que um dia sua obra seria transformada em filme;
  • Em 0:45:13, quando o Dr. Martin está conversando com o guarda, há um artigo no monitor do computador anunciando um novo superintendente do Conselho da Prisão. O homem retratado é Steve Deace, autor de “The Nefarious Plot”;
  • Durante a entrevista de Glenn Beck com o Dr. James Martin no final do filme, o livro que está sendo segurado é o livro real “A Nefarious Plot”, de Steve Deace, o material de origem do filme;
  • O filho primogênito de Jordan Belfi nasceu durante o primeiro dia de filmagem deste filme;
  • Glenn Beck aparece em uma participação especial no final. Beck foi uma das primeiras pessoas notáveis a promover e defender o livro, “A Nefarious Plot”, o que acabou ajudando a fazer com que ele fosse aprovado;
  • De acordo com o livro no qual o filme se baseia, Nefarious explica que a “Última Tentação de Cristo” foi o produto de demônios no inferno experimentando drogas que eles observaram os humanos se drogando para criar o retrato mais blasfemo e insultuoso do cristianismo que eles puderam imaginar e ficaram genuinamente surpresos quando Hollywood realmente pegou a história;
  • Jordan Belfi explicou que considerou o filme um estudo de personagem e que seu papel era interpretar o papel do público;
  • Apesar do tema demoníaco do filme e de ter padres e exorcistas no set, Sean Patrick Flanery e Jordan Belfi expressaram que não se sentiram em perigo durante as filmagens;
  • Após o final, é feita referência à inscrição escrita pela mão de Deus na parede do livro de Daniel. Os roteiristas e diretores Chuck Konzelman e Cary Solomon escreveram anteriormente o roteiro de “O Livro de Daniel” (2013);
  • Jordan Belfi já interpretou um investigador atormentado por um antagonista possuído por demônios em “Don’t Look at the Demon” (2022);
  • Quando os créditos rolarem, você poderá ver um agradecimento especial ao diretor Dennis, do departamento de correções de Oklahoma;
  • Enquanto as filmagens externas da prisão para o filme Nefarious ocorreram no Reformatório do Estado de Oklahoma em Granite, OK, todas as execuções no estado de Oklahoma são feitas na Penitenciária do Estado de Oklahoma em McAlester, OK, não no Reformatório em Granite;
  • A fotografia principal ocorreu em Oklahoma City no final de 2021. Você pode ver que as filmagens também aconteceram no Reformatório do Estado de Oklahoma, quando o Dr. James Martin (Jordan Belfi) entra pelo portão com seu carro;
  • Essa produção perdeu contra a NLRB (National Labor Relations Board – Conselho Nacional de Relações Trabalhistas) em relação ao tratamento dado à equipe;
  • A inscrição que aparece após os créditos finais, que são lidos por uma voz demoníaca, significa: “Você foi pesado na balança e foi considerado em falta”. Essa é a inscrição escrita na parede pela mão de Deus no livro de Daniel para dizer a um rei maligno que roubou taças de vinho do templo de Deus que ele seria destruído naquela mesma noite. No entanto, foi acrescentado mais um texto que, traduzido, diz: “Mas você é estúpido por não entender. Ele continua”. O que implica que o trabalho do demônio ainda não terminou, pois ele não encontrará falta de pessoas para possuir;
  • Em relação à cena em que Nefarious comemora a morte do filho não nascido da psiquiatra durante a entrevista, Sean Patrick Flanery explicou que nunca foi seu objetivo “personificar o mal”, mas que ele interpretou a cena visualizando que um demônio sentiria “alegria erótica” quando esse evento acontecesse.

Ficha técnica

Diretores: Chuck Konzelman e Cary Solomon.
Roteiro: Cary Solomon, Chuck Konzelman e Steve Deace.
Produtores: Lori Cramer, Robert Cramer, Steve Deace, Sheila Hart, Chris Jones, Steven Katz, Chuck Konzelman, Dave Kutscher, Bob Vander Plaats, Brandon Riley, Cary Solomon, John Sullivan e Dave Van Wyk.
Diretor de fotografia: Jason Head.
Editor: Brian Jeremiah Smith.
Design de produção: Chad Quick e Chris Rose.
Figurino: Gina Ruiz.
Cabelo e maquiagem: Princie Patel, Ashley Tabb e Sharon Tabb.
Música: Bryan E. Miller.
Elenco: Sean Patrick Flanery, Jordan Belfi, Tom Ohmer, Glenn Beck, Daniel Martin Berkey, Mark De Alessandro, Cameron Arnett, James Healy Jr., Sarah Hernandez, Jarret LeMaster, Grifon Aldren, Jeremy Miller, Darrin Merlino, John Cann, Eric Hanson, Stelio Savante, Robert Peters, Sheran Goodspeed Keyton, Cedric St. Clair, Tina Toner, Maura Corsini, Sheila Hart, Angela Baumgardner, Katy Hayes, Johnny Horn e Ethan Millard.

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